Sou tudo aquilo que escrevo.Não há melhor forma de me conhecer.Nas palavras encontrei todos os sentidos.Nos gestos descobri todas as emoções. No amor descobri a vida em mim.Tudo em mim é mar, calmo ou violento, quando olharem esse azul imenso de água pleno, relembrem as palavras que escrevi, esse é o segredo de estar aqui.
Sábado, 24 de Fevereiro de 2007
Fazes-me falta
na ausência dos dias
Fazes-me perder os caminhos
nos reencontros dos regressos
Entre abaladas e chegadas
Há enganos nos olhares
Fazes-me falta chorar
Calaram-se os segredos
Esconderam-se os medos
E as emoções
As paixões
As uniões
E as conjunções
Que antevi
Perdi.
22/02/2007
É um entra, permanece horas a fio e sai do Café Avenida, uma rua com pouco mais de 200 metros. Há uma salamandra ao canto da pequena sala que antecede o balcão.
A cafeteira que descansa em cima da salamandra aquece as conversas da gente que tem muito para contar.
Bebem-se cafés, chás, medronhos, whiskys, e também há um galo no tacho que de tão velho custa a ficar tenro para ser trincado pelas dentaduras onde já faltam tantos dentes.
Os vizinhos abalaram de regresso ao norte e as crianças alegram as expressões envelhecidas e cansadas.
Aqui as saudades do passado misturam-se no dia-a-dia porque essa é a vida que todos aprenderam. E há mais sorrisos nos rostos de quem tão pouco tem de seu.
Aqui passam-se os dias de uma vida inteira de partidas e regressos.
Uma folha que anuncia uma excursão a partes longinquas, num português toscamente redigido e que foi tantas vezes corrigido, mas nem por isso deixou de acontecer a viagem.
Em menos de nada se chega a qualquer parte, não é como na cidade. E enquanto se chega e não chega os campos que se atravessam nos caminhos verdejam as beiras das estradas.
22/02/2007
Segunda-feira, 5 de Fevereiro de 2007
Percursos
No branco do casario
Que o sol afaga
No silêncio da Planície
Que aquieta a alma
No bailado das searas
Que a brisa produz
No rubro das papoilas
Que beijam malmequeres
No matiz dos girassóis
Que enche a paisagem
Nos densos olivais
Que a riqueza contempla
Na água pura das fontes
Que à sede dá prazer
Na beleza do património
Que artistas perpetuaram
Na nostalgia dos cantares
Que a sensibilidade respeita
Na mesa saborosa
Que o paladar divulga
Nos rostos cansados
Que a vida marcou
O povo hospitaleiro
Se reconhece
E eu te venero
Nobre Alentejo!
Autor: a minha mãe!