Palavras
Gosto das palavras.
As tuas.
Sejam praias de sentires
ou recantos de ficção.
Gosto, porque de palavras me visto.
Ou desnudo as melancolias
Sonhos tresmalhados
Os amantes sem dinheiro
Tinham o rosto aberto a quem passava.
Tinham lendas e mitos
e frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
de mãos dadas com a água
e um anjo de pedra por irmão.
Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de oiro
onde ardiam
os sonhos mais tresmalhados.
Tinham fome e sede como os bichos,
e silêncio
à roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços.
Eugénio de Andrade
Acordar com as tuas palavras
Há palavras sem resposta, de tão belas.
Fiquei sem palavras, até que a madrugada se foi e eu acordei contigo no pensamento...
Eu que me descubro tantas vezes nos bosques da ficção, eu que dispo tantas vezes os meus sentimentos na palavra, eu que percorro todos os caminhos das emoções na pele milenar da voz escrita sem devaneios, gosto que me atormentem assim.
Gosto de sentir o roçar das palavras na minha nuca, ainda que sejam encontros de madrugadas juradas aos ventos da fantasia.
Gosto de sentir o murmúrio sensual do mar escrito em colunas sufocadas pelas vagas.
Gosto de sentir o corpo tremer, crescer, estender-se e ficar, intensamente curvado sobre a boca das palavras.
Gosto de fazer amor, beijar todos os poros, ser língua e espada, grito e adejar dolente, abrir de par em par a porta dos corpos, das almas, ser inteiro dentro e fora, no sexo ou na virtude, e ficar assim, calado, que as palavras me emudeceram a resposta.
Gostei de ficar sem palavras, porque disseste todas as palavras.
Percorro-te o corpo em sinestesias de paixão, mordo-te o seios que sufocam a vida, passo-te a mão na mão da alma, tremo fazendo-te tremer, afago o sexo virtual que fazemos em lençóis amarrotados ao ritmo com que escrevemos a paixão segundo São Devaneio, entro em ti como se fosses o veneno final do apetite redescoberto, seduzo-te os sentidos porque és onda, gaivota, nuvem, falésia, e sorris o desejo com o brilho das gotas de seiva a correr.
E fico aqui, os olhos abertos à tua nudez desembaraçada, brincando com Eros na plenitude natural dos campos primaveris.
Eu sei que te desejo.
Mas há um sol que encandeia as nuvens, a chuva que apaga os regos por onde encaminhamos o desencanto unilateral de sermos apenas ficção.
Sobre o autor: Poeta da Alma
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