Sou tudo aquilo que escrevo.Não há melhor forma de me conhecer.Nas palavras encontrei todos os sentidos.Nos gestos descobri todas as emoções. No amor descobri a vida em mim.Tudo em mim é mar, calmo ou violento, quando olharem esse azul imenso de água pleno, relembrem as palavras que escrevi, esse é o segredo de estar aqui.
Pousou a chave do carro e encaminhou-se para a janela, abriu-a de par em par, e desiludida constatou que tudo lá fora estava igual, a mesma rua, as mesmas lojas, as mesmas pessoas a quererem saber por onde teria andado aqueles anos todos que não a tinham visto entrar e sair. Lembrou-se então que afinal algo tinha mudado, ela própria. A única coisa que havia permanecido era a eterna saudade daquele lugar, por tudo e apesar de tudo, daquele lugar que fazia parte de si e de tudo o que mais amara na vida.Perdera-se e encontrara-se tantas vezes na vida que já nem sabia que sabores tinham os encontros e desencontros, os amores e as paixões, os amigos e os amantes. Sentia-se arrebatada pelos enganos, ansiosa pelos sonhos não vividos, pela procura de tudo o mais que se possa imaginar nesta ou noutra vida.E era assim como um segredo entranhado nas páginas dos seus dias, sem rumo, mercê da falta de alguém que a acompanhasse fosse para onde fosse.Coisas que te fizeram. Saudade do futuro que não chegou a ser. Os homens que dormiram contigo na cama, nos trilhos, nos restolhos, no mar do teu luar, os sonhos que lhes permitiste, as ilusões que lhes vendeste, a pele e o corpo que lhes deste, a alma que lhes roubaste, o amor que nunca foi teu.
18/11/06